segunda-feira, 14 de maio de 2012

Acalento
Depois de quase oito meses na nova cidade,já era hora de de estar "lá-r". Neologismo? Sim, mas pode chamar também de tocadilho. Eu aceito o termo. Lá-r, é onde me encontro comigo mesmo. A espera no aeroporto, o entrar a bordo do mesmo. Olhar para o lado e ver a paisagem passar, cada vez mais rápido, até se tornar apenas branco. Um grande, enorme e imenso tapete branco que, para mim, parecia ser maior que para qualquer outra pessoa pois, apesar das nuvens, havia uma saudade que deveria ir diminuindo, mas não... Ela estava fazendo questão de me lembrar que seria por poucos dias. Fazendo questão de me lembrar que, agora, pertenço à aquela paisagem de antes do tapete grande, enorme e imenso. Mesmo assim que queria chegar Lá-r. Eu queria estar Lá-r. Com tudo e todos que tenho o direito. Lá-r, é onde respiro, corro, danço, tomo banho de chuva, saio sem pentear o cabelo. Esperei meus olhos castanhos e intensos, que fazem par com um dos maiores sorrisos que conheço... Não os encontrei. Um descuido, meu, um erro, meu, fez com que o desencontro acontecesse. Esperar me dói... Sozinho, me corta. Entro no ônibus para a segunda parte do trajeto. Essa parte já não me era novidade mas, para minha surpresa, nunca foi tão rápido. Parecia que eu havia despistado a saudade ou que ela havia, de propósito, me dado um espaço. As imagens familiares, tão diferentes daqui, os sons e, por fim, os rostos. Dois rostos conhecidos, com olhares de ansiedade e acalento, me esperavam. Como foi bom saber que se fecharam naquele abraço. Como me aliviaram aqueles dois pares de olhos castanhos. Lá-r, é onde não me importo se a roupa não está perfeitamente passada, não me importo em acordar cedo sem despertador. A imagem de Lá-r, o cheirinho da grama molhada pelo sereno, o friozinho gostoso. Cada objeto em seu devido lugar, como me lembro ser, como tem de ser. Quando olhei para a escada, um batalhão de lembranças veio descendo, fazendo a maior bagunça, me trazendo sorriso de alívio. Sensação de aconchego. Os dias se passaram que nem percebi. Com direito a cheirinho de café com pão queijo, com gosto de doces caseiros do papai, com sons de gargalhadas sinceras e gostosas. Algumas coisas mudaram e decidi me adaptar. Mudaram para melhor e não seria eu o responsável por atrapalhar o atual andamento das coisas Lá-r. Tudo tão perfeito. Lá-r, é o lugar em que meu coração se permite falar, mais que nunca. A volta? A volta fica para depois. Quero curtir mais um pouco cada lembrança que estou revivendo agora e deixar cada lágrima seguir seu curso.